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terça-feira, 14 de setembro de 2010

O OITEIRO NÃO SE CALA...

Obras do aeroporto de São Gonçalo do Amarante prejudicam a ultima família produtora de artesanato em cipó do município.



Com a morte da Romanceira Dona Militana um grande espaço vazio fica na cultura, já que ela seria umas das últimas. Sua filha, sua neta são lembradas para levarem a frente o trabalho já que Maria José Salustino (Militana) herdou do Mestre de muitas artes do folclore o seu pai Atanásio Salustino e será possível que esse dom ainda esta na família? Mas o tempo corre e sua sucessora ainda é uma dúvida e o espaço vazio começa a ser preenchido por uma certeza. Sobraram os DVDs, fotos e vídeos dos romances ibéricos.

A irmã de Militana, Dona Maria das Dores do Nascimento, tem como sua irmã mais velha o dom do improviso, como muitas tiradas como se referiu as suas composições no ritmo do baião e aboios, ela relata causos trágicos e vivências de seu cotidiano, com o mesmo ar de timidez da irmã mais velha, que a considera como sua segunda mãe. A princípio se faz esquecidas de suas canções, mas depois não queria parar de cantar. Perguntei se ela seria capaz de recitar os romances ibéricos da época das cruzadas cantados por Dona Militana. Ela falou que talvez! Se tivesse acesso aos romances poderia se recordar.

Muito parecida fisicamente com a irmã mais velha, Maria das Dores há principio, um pouco desconfiada, mas com tempo torna-se receptiva às visitas.

Com 68 anos, Maria das Dores do Nascimento, nascida no Sítio Oiteiro é irmã mais nova de Dona Militana, filha de Atanásio Salustino e Maria Militana. Também herdou do Grande Mestre do folclore norte-rio-grandense o dom do improviso em seus versos.
Maria das Dores do Nascimento artesã há 60 anos, Conhecida pelo seu trabalho em cipó é proibida de tirar a matéria prima para seu artesanato mesmo estando nesse trabalho desde os oito anos.

Ir a mata é sempre uma aventura dependendo das encomendas, de uma a duas vezes por semana. Os perigos de cobras e insetos fazem parte das histórias contadas por Dona Maria Dores, que mesmo assim com a felicidade estampada no rosto comenta que “essa é a parte do serviço que mais gosta”.

A jornada da família começa às 6 da manhã e termina às 16 horas, o almoço e lanche e feito na mata. No dia da independência (07 de setembro) Dona Maria brinca e diz que iria desfilar na mata.





 " O que quero é voltar tirar cipó na mata de São Gonçalo, faço isso desde 1950 quando ia com meus pais" 





O amor pelo artesanato é passado de geração em geração, a sua filha Laudaci Maria, já tem sua neta de 3 anos Edeyne Ludmila ao seu lado descascando o cipó.

“Proibiram-nos de tirar cipó na mata aqui pertinho, estão botando a mata abaixo e agente não pode tirar uma planta que quando cortada se multiplica e em seis meses pode ser colhida novamente. Temos que sair de São Gonçalo do Amarante pra colher cipó em Gramorezinho, Genipabu ou estrada de Touros, antes trazíamos o cipó na cabeça, de carro de mão ou de carroça, não pagávamos nada hoje temos que desembolsar de 60 a 80 reais de frete”. Desabafa Laudaci.


D. Maria, Laudaci e sua neta de 3 anos

Laudaci mostra sua insatisfação e revela que já está perdendo o amor pelo artesanato e que já fez um curso de enfermagem para abandonar o artesanato pelas dificuldades de conseguir matéria prima.

Maria das Dores produz artesanato rústico que aprendeu com seu pai mestre Atanásio e já Laudaci aceita desafios e produz um artesanato refinado.
Os avanços estão chegando com o futuro aeroporto, a copa do mundo, as olimpíadas. Mas esses “avanços” têm que serem planejados junto ao povo, respeitando os costumes e tradições. Se não for assim fica claro para quem deve ser esses avanços.



E o Oiteiro não se cala...

“Morreu Edne Pereira
em situação singela
chamou e ninguém socorreu,
o cimento foi seu leito
e faca sua vela”.

Fragmento da composição de
Dona Maria das Dores.

    Temos que ter o cuidado para que nosso povo não perca o pouco que tem para os poderosos, e que nossa arte e costumes não sejam substituídos por outros. O que produzimos tem que ser (re) conhecido pelos que vem de fora e respeitado e valorizado por nos mesmo.


Fotos
Lenilton Lima

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